Do livro "Falo", 1ª ed. 1976, reedição em 2003 pela Ed. Sebo Vermelho, RNMadame Satã,acabaram de me contarque você andou por aqui.Não forneceram detalhes,mas eu imagino.
Gostaria de saber de ti:possuias algum cãozinho,cativo, para alimentar?Havia o teu, particular,que afagavas e, modorrento,botavas para dormir - cheiroso?...
Sim - madame divina!eu penso.Precursora, poderosa,Lampião do asfalto.A Lapa tremia contigo,vibrava, amava contigo,trepava.
Pelo menos ficou urna certeza:vão demolir toda a Lapa,mas teu nome vai ficar,enorme - suspenso no ar.Bojudo, grave,prenhe de emoção e de glória.
Eu agora estou no palco,Samuai,que foi o teu viver.Mas não tenho tua forçade expressão,a ginga.Ogum não quis me dar- ele sabe...o chapéu de Panamá, a voz,as noites, o bordel.Tudo isto era muito teu,muito nosso.Gostaria de te cochicharas últimas que ouvi na Lapa.O malandro aposentou-se,Vive agora de welfare state,a noite agora é outra,poluída, massiva,Lasciva, ainda, mas morta.Levaste um pouco da Lapa,ou tudo - a Lapanão é mais aquela.Trocaram muito de vez,e a bunda dela agora é kitch,sucesso, fora de ângulo, démodéFicou teu brinco, o charme,a tônica, a perna no ar,capoeira e pinga.As paredes da Lapa, Satã,são eternas,e nelas você está definitivamente,preto, feroz, uma pedra.
O livro pode ser lido na íntegra no site de Rogel Samuel: http://historiadosamantes.blogspot.com/search/label/PAULO%20AUGUSTO%20-%20FALO
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