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Madame Satã, 
acabaram de me contar 
que você andou por aqui. 
Não forneceram detalhes, 
mas eu imagino.

Gostaria de saber de ti: 
possuias algum cãozinho, 
cativo, para alimentar? 
Havia o teu, particular, 
que afagavas e, modorrento, 
botavas para dormir - cheiroso?...

Sim - madame divina! 
eu penso. 
Precursora, poderosa, 
Lampião do asfalto. 
A Lapa tremia contigo, 
vibrava, amava contigo, 
trepava.

Pelo menos ficou urna certeza: 
vão demolir toda a Lapa, 
mas teu nome vai ficar, 
enorme - suspenso no ar. 
Bojudo, grave, 
prenhe de emoção e de glória.

Eu agora estou no palco, 
Samuai, 
que foi o teu viver. 
Mas não tenho tua força 
de expressão, 
a ginga. 
Ogum não quis me dar 
- ele sabe... 
o chapéu de Panamá, a voz, 
as noites, o bordel. 
Tudo isto era muito teu, 
muito nosso. 
Gostaria de te cochichar 
as últimas que ouvi na Lapa. 
O malandro aposentou-se, 
Vive agora de welfare state, 
a noite agora é outra, 
poluída, massiva, 
Lasciva, ainda, mas morta. 
Levaste um pouco da Lapa, 
ou tudo - a Lapa 
não é mais aquela. 
Trocaram muito de vez, 
e a bunda dela agora é kitch, 
sucesso, fora de ângulo, démodé 
Ficou teu brinco, o charme, 
a tônica, a perna no ar, 
capoeira e pinga. 
As paredes da Lapa, Satã, 
são eternas, 
e nelas você está definitivamente, 
preto, feroz, uma pedra.                                 
Do livro "Falo", 1ª ed. 1976, reedição em 2003 pela Ed. Sebo Vermelho, RN 
O livro pode ser lido na íntegra no site de Rogel Samuel: http://historiadosamantes.blogspot.com/search/label/PAULO%20AUGUSTO%20-%20FALO                                              

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